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Dia dos Namorados: um romance no trabalho pode prejudicar minha carreira?

Especialistas ensinam como lidar com os relacionamentos na empresa e o que os chefes podem - e não podem - fazer

Quando Polly Arrowsmith precisou se ausentar de sua empresa de TI por alguns meses para cuidar de sua mãe, ela pediu que um de seus funcionários demitisse um membro de sua equipe, já que ela estava afastada. Entretanto, o funcionário não mencionou que estava em um relacionamento com a pessoa que seria dispensada.

Alguns meses depois, quando Arrowsmith retornou, descobriu que a demissão não havia acontecido. O funcionário não teve coragem de demitir sua namorada, o que significava que a dona da empresa precisaria dispensá-la e também pagar bem mais pela indenização trabalhista.

— Foi uma grande quebra de confiança e me senti uma idiota porque muitos da minha equipe sabiam, e eu não — contou Arrowsmith.

Apesar das consequências de viver um relacionamento no trabalho, os romances nesse ambiente se tornaram comuns no século XX. Nessa época, as mulheres ingressaram no mercado de trabalho e os empregos se transformaram em uma parte mais significativa da vida e da identidade das pessoas.

'Acontece em todos os lugares'
Para se ter uma ideia, uma pesquisa da University of Northern Colorado apontou que um em cada quatro trabalhadores viviam um romance no trabalho durante a década de 1990. Em 1995, o jornal Los Angeles Times chamou esses casos de “um fato da vida empresarial”, observando que entre os 250 mil funcionárias da companhia americana de telecomunicações AT&T, mais de oito mil eram casais.

Uma curiosidade é que nem todos esses romances estavam dentro dos casamentos. Os escritórios, na verdade, se transformaram em uma “zona de perigo” para casos extraconjugais. Uma conselheira de relacionamento escreveu que, antes de 1990, 38% das esposas infiéis que ela tratou estavam saindo com alguém do trabalho. Essa porcentagem subiu para 50% na década de 1990.

Os números não são tão diferentes no Reino Unido. Uma pesquisa de 2022 descobriu que um em cada quatro admitiu ter um “encontro romântico” com um colega de trabalho.

— Coletar as estatísticas me fez perceber que não é algo isolado em uma determinada indústria ou setor, acontece em todos os lugares — disse a chefe de direito trabalhista de um escritório de advocacia, Tina Chander.

Quando vai bem, aumenta a produtividade

Quando os relacionamentos vão bem, pode até haver motivos para as empresas incentivá-los. Levantamentos apontam que encontrar amor no trabalho pode aumentar a produtividade.

Emma Hollingsworth, de 36 anos, que conheceu o marido Richard, 37, no terceiro dia do programa de pós-graduação em contabilidade em Londres, há 15 anos, é a prova prática da pesquisa.

— Estávamos sentados um ao lado do outro em um curso de treinamento e achei ele muito engraçado — relembrou ela.

Trabalhar juntos nos anos seguintes tornou sua rotina muito mais agradável, porque o casal podia conversar pelo sistema de mensagens do trabalho e combinar seus horários.

— Podíamos nos acordar, ir à academia juntos, tomar café da manhã e depois ir para o escritório juntos — disse ela

Efeito MeToo

No entanto, os números apontam que há queda na popularidade dos romances no trabalho. De acordo com o Pew Research Center, 21% dos americanos de 50 a 64 anos conheceram seu parceiro no trabalho; já na faixa etária de 18 a 29, apenas 13% repetiram o feito.

Esses números não são surpresa, já que hoje existem diferentes formas de marcar um encontro. Segundo o estudo, um quinto da faixa etária mais jovem conheceu seu parceiro online.

As mudanças culturais também abalaram os relacionamentos no escritório. O movimento MeToo desafiou as percepções do que é aceitável no local de trabalho. Até mesmo relacionamentos consensuais agora são considerados inapropriados em muitas ocasiões.

O CEO da McDonald's Corp., Steve Easterbrook, por exemplo, foi demitido em novembro de 2019 devido a uma relação consensual de trabalho, pois violava a política da empresa. Em fevereiro de 2022, o presidente da CNN, Jeff Zucker, renunciou após a revelação de um relacionamento consensual de anos com um colega.

Como não cair em armadilhas

Histórias fracassadas sobre romances no trabalho são tão comuns que existem empresas inteiras criadas para ajudar a mitigar o risco para a carreira de encontros amorosos. Andy Coley dirige a Professional Boundaries, uma organização de treinamento que faz a maior parte de seus negócios resolvendo questões depois que algo deu errado em um relacionamento no trabalho.

Em um caso, ela foi contratado por uma instituição de caridade para lidar com as consequências de um triângulo amoroso no escritório. Uma mulher casada com um colega de trabalho, mas grávida de outro.

— As pessoas podem ter casos se [elas] quiserem, mas quando as três trabalham na empresa e uma prestes a sair de licença maternidade, as outras duas ficam para trás? Você pode perder 20% de sua força de trabalho de uma só vez por causa desse triângulo amoroso.

O maior conselho em suas sessões é encorajar a equipe a pensar nas possíveis armadilhas de agir em uma paixão de escritório e garantir que a conexão seja forte o suficiente para justificar a busca. Ela pede que considerem questões de si mesmos, incluindo: “O que há nessa pessoa que realmente me atrai? E seria verdade se não estivéssemos trabalhando juntos?

Contanto que eles passem nesses testes, Coley não é contra namorar alguém do trabalho, afinal, foi assim que ele conheceu sua esposa.

Funcionários podem ser impedidos de namorar?

Coley disse que os relacionamentos no trabalho são basicamente inevitáveis, dados os longos períodos de tempo que passam juntos e as situações ocasionalmente difíceis.

— Em organizações com muitos funcionários, você só consegue relacionamentos — disse — Estou fazendo [um curso] em uma escola com 120 funcionários e garanto que algumas das pessoas naquela sala estão se relacionando umas com as outras.

Se você é um chefe preocupado com os riscos do amor no local de trabalho, pode ser tentador desejar eliminá-los. Mas isso é difícil de fazer legalmente, ao menos no Reino Unido, aponta o advogado trabalhista Matt Gingell.

— É importante estar ciente da Lei de Direitos Humanos. As pessoas têm direito à privacidade e à vida familiar, e os empregadores precisam estar cientes desse direito.

Mas pode ser interessante ter uma política de divulgação, em que os funcionários são solicitados a contar a seus chefes sobre relacionamentos íntimos significativos com colegas, desde que a situação seja tratada com cuidado e justiça.

— Se um gerente sênior estava tendo um caso com a funcionária júnior, eles não podem ser discriminatórios ao tentar forçar a mulher a mudar [de emprego].

Gingell acrescenta que quaisquer efeitos negativos dos romances no escritório podem ser administrados de acordo com as políticas existentes.

— Se o desempenho de um funcionário está prejudicado e talvez seja devido, por exemplo, a problemas de relacionamento, o empregador tem o direito de adotar medidas para melhorar a performance da sua equipe — disse ele.

Namoro com chefe não é apropriado, dizem especialistas

Mas, se você namorar alguém que você chefia ou alguém que chefia você, é provável que isso cause problemas, segundo a consultora de operações Rachael Gunn, que trabalha com políticas de conflito de interesses. O relacionamento pode levar à percepção de injustiça.

— Houve casos em que tivemos que nos sentar com eles e dizer que, devido à natureza do relacionamento que você tem, não é apropriado continuar nessas funções e os encorajamos a encontrar soluções — disse ela.

No entanto, simplesmente forçar as pessoas a trocar de funções por causa de um relacionamento seria muito difícil, a menos que você pudesse provar a injustiça, disse ela.

A experiência de Arrowsmith com seu empregado mostrou até que ponto essas questões de injustiça podem ir quando um chefe e um funcionário se relacionam. Mas isso pode não importar a longo prazo para esse casal, segundo ela.

— Eles acabaram se casando e ainda estão juntos, até onde eu sei. Deve ter valido a pena se você encontrar seu parceiro de vida dessa maneira.